Relato de um parkinsoniano:
“Assunto delicado e de difícil abordagem, pois cada história oferece diferentes aspectos e cada coração fala por si mesmo. Sem generalizar, porque não é possível, o que escrevo a seguir é baseado em experiências pessoais e também em experiências de outros pacientes com quem tenho contato eventual. O diagnóstico sempre cai como uma bomba na cabeça do paciente. Mas não é só na cabeça do recém diagnosticado. Como se sabe, quando alguém da família adoece, a família toda adoece junto. As dificuldades aumentam gradativamente, e se não existe diálogo franco, se não se fala com clareza, os conflitos começam a aparecer.
A vida no nosso corpo é possível devido a um produto de reações químicas e, no caso da Doença de Parkinson, esse equilíbrio químico é desbalanceado pela diminuição da produção de Dopamina. A Dopamina é um neurotransmissor através do qual se processam informações entre os neurônios, o que nos permite manter a musculatura de todo corpo funcionando, atuando também na regulação do nosso humor, do nosso estado de ânimo ou depressão. Portanto, além das condições de mudanças físicas, a rigidez muscular, os tremores e a lentidão, as baixas concentrações de Dopamina poderão deixar o paciente depressivo ou produzir mudanças bruscas de humor. Torna-se difícil administrar tantas mudanças. Lembrando que somos produtos de reações químicas e, considerando que essas reações não estão acontecendo satisfatoriamente, é preciso entrar com química sintética, ou seja, utilizar medicamentos que produzam ação dopaminérgica no organismo. Uma espécie de simulação do que o organismo deveria fazer por si só, mas não faz. O medicamento mais usual para esse fim é a Levodopa, embora a terapêutica atualmente utilizada nas fases iniciais da doença é a administração do Pramipexol. Essa tendência atualmente utilizada visa retardar o uso da Levodopa, e tem como objetivo “poupar” o paciente de sofrer com os efeitos colaterais devido ao uso prolongado da mesma. Essas drogas simulam o papel da Dopamina no organismo, permitindo que o paciente recupere a qualidade de vida, porém com o uso prolongado essa química sintética poderá produzir alguns efeitos colaterais bastante indesejados, sendo os mais graves: alguns distúrbios de personalidade e o risco de desenvolver compulsões das mais variadas. Compulsões por gastos excessivos, por sexo, por jogo, enfim, esses efeitos colaterais poderão vir a ser um pesadelo tanto para o paciente, quanto para os familiares. Essa explicação foi necessária para clarificar as influências da química utilizada terapeuticamente no tratamento da doença tanto no âmbito pessoal, como no dos relacionamentos, sejam eles sociais, familiares ou conjugais. Por se tratar de um assunto muito importante e bastante amplo, com muitos fatores e variáveis concorrentes, que pretendo expor com a maior clareza possível, vou abordá-lo em alguns capítulos que publicarei sequencialmente, para não cansar o leitor. Espero colaborar de forma a ser útil, espero que esses textos sirvam não só como referência para pacientes e cuidadores, mas também e principalmente, como luz de compreensão para os que passam por esses problemas.”
Por Roberto Coelho (Portador da DP há 50 anos)
Por Roberto Coelho (Portador da DP há 50 anos)
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